quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O vício existe mesmo, ou é apenas um mito?

O vício existe mesmo, ou é apenas um mito?

Existirá mesmo uma dependência química por determinadas substâncias ou as drogas seriam apenas mais uma forma de se livrar de uma situação negativa? Mas será que uma mudança de ambiente não traria um efeito semelhante - porém mais saudável?

Por Rodolfo Araújo

Nos textos mais recentes exploramos alguns comportamentos humanos relacionados a escolhas feitas em ambientes pouco familiares, onde os indivíduos encontravam-se em situações de estresse.

Especificamente os artigos sobre Zimbardo e Milgram mostraram como as pessoas acabam tomando decisões que prejudicam aqueles à sua volta, num momento em que havia a possibilidade de escolher entre se fazer o bem ou o mal a alguém. Hoje veremos como o indivíduo faz tal escolha numa situação em que ele próprio sofrerá as conseqüências mais imediatas: o uso de drogas.

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Na década de 1970 o uso de drogas pesadas atingia níveis endêmicos com a disseminação da cocaína pelos EUA, além dos veteranos da Guerra do Vietnam que voltavam para casa viciados em heroína e os revolucionários movimentos da contra-cultura, que popularizaram o LSD.




Depois de o vício em drogas ter sido associado à imoralidade e à fraqueza de caráter, a corrente de pensamento da segunda metade do século XX atribuía o uso e o abuso das drogas a questões essencialmente farmacológicas.

Colocavam a dependência química quase como um inevitável fim para aqueles com alguma predisposição inata sendo, portanto, uma questão médica.

Recentes experimentos com ratos e macacos relatavam dramáticos desfechos de estudos onde, em condições experimentais, as cobaias chegavam a preferir droga em vez de comida, muitas vezes morrendo de fome. Mas o psicólogo americano Bruce Alexander encontrou algumas inconsistências nesses relatos que mostravam o vício em drogas como um destino quase irrevogável e praticamente dissociado do livre arbítrio.

Para ele, as condições em que os próprios estudos eram realizados representavam um verdadeiro pesadelo para as cobaias envolvidas. Era de se esperar, continua, que qualquer ser vivo naquelas situações preferisse viver entorpecido do que sobreviver de forma tão deplorável. E ele estava disposto a provar sua hipótese.

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Morando no Canadá, Alexander trabalhou numa clínica de tratamento de viciados. Um paciente em especial chamava sua atenção: um rapaz que trabalhava vestido de Papai Noel injetava-se heroína e passava seis horas por dia sorrindo para crianças num shopping center em Vancouver. Tal comportamento sugeriu-lhe, pela primeira vez, que as pessoas não usavam a droga por uma necessidade essencialmente química, mas para suportar uma situação potencialmente difícil.

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